quarta-feira, 28 de março de 2018

Morfema latente ou alomorfe zero (Morfologia)

O morfema latente tem em comum com o morfema zero a ausência da marca. Mas no morfema zero essa ausência representa um significado, em contraste com um morfema aditivo. Já no morfema latente, não indica qualquer categoria.

lápis            funciona isolado e inalterado para indicar singular/ plural

artista          funciona isolado e inalterado para indicar masculino/ feminino


A designação latente provém do fato de que essas significações revelam-se indiretamente no contexto.

Trata-se dos morfemas básicos de plural (-s) e de feminino (-a) que se realizam algumas vezes como zero na qualidade de alomorfes, não traz em si mesmo os contrastes das categorias gramaticais.

terça-feira, 27 de março de 2018

Morfes cumulativos (Morfologia)

Espera-se que a um morfema corresponda apenas um significado, mas nem sempre isso acontece. Nas formas verbais do português há morfes que representam a fusão de dois morfemas. Quando isso ocorre diz-se que é um morfe cumulativo.


Desinências modo-temporais: contêm noções de tempo e modo.

Desinências número-pessoais: contêm noções de número e pessoa.


cantá + sse + mos     

[sse] indica que o verbo está no tempo imperfeito do modo subjuntivo. Assim opõem-se a outros tempos verbais, como canta (va), canta (ria)...

[mos] indica a primeira pessoa do plural. Assim opõem-se a: cantasse(Ø), cantasse(s), cantasse(m)...   



olh + a + Ø + ste 

Concretamente, temos os morfes representativos da raiz
(ou radical primário), da vogal temática e da desinência número-pessoal.
Como podemos observar, não há um morfe que represente o tempo
e o modo. Por outro lado, a desinência [ste], que representa a pessoa e o número, só ocorre nesse tempo verbal. Em vista disso, pode-se atribuir ao segmento [ste] a função de
representar cumulativamente as noções de pessoa e número e de tempo e modo.



Morfema zero (Morfologia)

Há casos em que o morfema se realiza na ausência de um morfe!
Quando a ausência de um morfe corresponde a um significado, chamamos de morfema zero.


    A oposição de gênero se faz para formas marcadas para o feminino pela desinência [a], e de formas não marcadas para o masculino. O que caracteriza o masculino é a ausência de qualquer marca, ou seja, o morfema zero: 


português + Ø   ≠  portugues + a

professor + Ø     ≠   professor + a

guri + Ø              ≠    guri + a



    O plural é marcado pelo [s], e o singular pela ausência significativa de um morfe, ou seja, pelo morfema zero:

caneta +  Ø      ≠   caneta + s

garagem + Ø   ≠    garagen + s



   Nas formas verbais são frequentes as oposições entre formas não marcadas e formas marcadas:

(nós) estud + a + re + mos
(ele)  estud + a + rá + Ø
(tu)    estud + a + Ø + s
(ele)   estud + a + Ø + Ø



   Também nas formas derivadas, o sufixo pode ser interpretado como zero. Exemplos em verbos derivados de flor:

flor + esc + e + r
flor + ej   + a + r
flor + isc  + a + r
flor + e     + a + r
flor + Ø    + i + r    (não contém morfe derivacional)
flor + Ø   +  a + r   (não contém morfe derivacional)



   Embora a raíz seja considerada o morfema básico (nuclear) que dá sustentação a todas as demais formas da mesma família, há vocábulos em que a raiz é representada pelo morfema zero. Em português o artigo definido e o pronome oblíquo átono [o] servem de exemplo:

Ø + o + Ø + Ø = o        
Ø + o + Ø + s  = os           
Ø + Ø + a + Ø = a              
Ø + Ø + a + s = as                
                                                                                                   
-> Historicamente o artigo definido em português é resultado de mudanças sofridas pelos pronomes latinos illu, illos, illa, illas. A evolução deu-se da seguinte forma: 
illu > elo > lo > o      
illas > elas > las > as. 

 Em outras línguas neolatinas a raiz se manteve: il, el, le, les, los, las...




segunda-feira, 26 de março de 2018

Alomorfia (Morfologia)

A realização concreta de um morfema se denomina MORFE, e quando há mais de um morfe para o mesmo morfema, ocorre ALOMORFIA.


Alomorfia na raiz:

lei / legal : [le] - [leg]

cabelo / capilar: [cabel] - [capil]

noite / noturno: [noit] - [not]

ouro / áureo: [our] - [aur]



Alomorfia no prefixo:

ilegal / infeliz: [i] - [in]

aposto / adjunto: [a] - [ad]

subaquático / soterrar: [sub] - [so]



Alomorfia no sufixo:

durável / durabilidade: [vel] - [bil]

cabrito / amorzito: [ito] - [zito]

facílimo / elegantérrimo: [imo] - [érrimo]

livrinho / pauzinho: [inho] - [zinho]



Alomorfia na vogal temática:

corremos / corrido: [e] - [i]

peão / peões: [o] - [e]


menino / menina: [o] - [Ø]

mar / mares: [Ø] - [e]



Alomorfia na desinência de gênero:

menino / avô: [Ø] - [ô]

menina / avó: [a] - [ó]



Alomorfia na desinência de verbos:

cantas / cantaremos: [ra] - [re]

falo / estou: [o] - [ou]

ledes / cortais: [des] - [is]

Forma, Função, Significado e Classe (Morfologia)

(Macambira, 1982)

Forma: Um ou mais fonemas providos de significação.  A conjunção e é uma forma constituída por apenas um fonema, que sob o aspecto semântico exprime a ideia de adição.

A rigor, a forma é um elemento linguístico do qual se abstrai a função e o sentido, mas como observa Saussure "as formas e as funções são solidárias e, para não dizer impossível, difícil é separá-las".


Função: Papel exercido por um dos componentes linguísticos no conjunto em que há interdependência: sujeito (do verbo), objeto direto (do verbo), adjunto adnominal (de um nome), etc...
Essa relação, no entanto, só pode ser definida pela análise. Isto quer dizer que não há função fora do contexto frasal (fora da estrutura).


Ex: tom - a - re - mos

Os constituintes mórficos (morfemas) de tomaremos são 4: [tom] representa o morfema básico ou raiz que se combina com outros morfemas derivacionais ou flexionais: [a] indica a primeira conjugação do verbo em relação à segunda ou terceira; [re] indica o tempo e o modo do verbo (futuro do presente do indicativo) em oposição a outros tempos verbais; [mos] indica a pessoa gramatical e o número.


Sentido: As formas reportam ao sentido, tanto externo à língua (morfemas lexicais) quanto interno (morfemas gramaticais). Lexical é o sentido básico que se repete em todos os membros de um paradigma, como em belo, bela, embelezar, embelezamento, beleza, beldade...Que se concretiza na forma [bel] e cujo sentido pode ser modificado pelos prefixos e sufixos. Gramatical é o sentido que distingue os diversos membros de um paradigma, como singular e plural, masculino e feminino, as pessoas e os tempos verbais.


Classe: As classes de palavras são constituídas com base nas formas que assumem, nas funções que exercem, e eventualmente, no sentido que expressam.
Quando as indicações formais não forem suficientes, usa-se o critério sintático para fazer a classificação dos vocábulos. Neste caso, deve-se buscar na relação das formas linguísticas entre si.


sábado, 17 de março de 2018

Formas Livres, Formas Presas e Formas Dependentes (Morfologia)

Frase para exemplo: Juízes convocam servidoras públicas.
As formas livres aparecem sozinhas no discurso, especialmente como respostas a perguntas. São vocábulos formais que podem ser pronunciados isoladamente e mesmo assim expressam ideias: São considerados palavras. Ex: juízes, convocam, servidoras, públicas.

As formas presas só tem valor (ou funcionam) quando combinadas com outras formas livres ou presas. Em juíze-s, o s é uma unidade formal que indica plural.  Esse sentido só é realizado na relação que a forma s tem com a forma juíze.

Em juízes, distinguem-se duas formas livres (juiz e juízes) e três formas presas (juíze, e, s)




Frase para exemplo: No caderno com arame há três folhas de papel em branco.

No, com, de e em não expressam ideias externas à língua. São, portanto, vocábulos formais, mas não são palavras. Vocábulos átonos (artigos, preposições, algumas conjunções e pronomes oblíquos átonos) que não podem constituir por si só um enunciado são formas dependentes. Ex.: em, o, te, se, quer (conjunção), para (preposição)...
As formas dependentes não se segmentam em outras unidades de sentido, ou sea, são formadas por um único morfema.



Morfes e Morfemas (Morfologia)

Os morfemas constituem as menores unidades formais dotadas de significado. (MONTEIRO, 2002, p. 14)


O Morfema se compõe de um ou vários fonemas, e destes difere, fundamentalmente, pelo fato de apresentar significado. Como é fácil de perceber, isoladamente os fonemas nada significam. Por exemplo: Se pronunciamos /p/ ou /t/, ninguém associa ao som emitido nenhuma ideia. (Gleason Jr, 1978) 

MORFE: Sequência fônica, a que é possível atribuir significado, e que será posteriormente classificado num morfema. 


quarta-feira, 14 de março de 2018

Palavra x Vocábulo (Morfologia)

Designam um conjunto ordenado de fonemas que expressam um significado.

/L/ /U/ /T/ /A/   forma o substantivo LUTA = COMBATE

Se quisermos relacionar o termo luta com outro qualquer (ex.: serpentes), precisamos de um elo ("de"). Podemos atribuir um significado a "luta" e a "serpente", mas não a "DE".

PALAVRA: apenas vocábulos que apresentam significado.
  Menor unidade para a sintaxe, maior unidade para a morfologia.

VOCÁBULO: podem conter significado específico ou não. 
preposições e conjunções: instrumentos gramaticais

     ASSIM:
  TODA PALAVRA É UM VOCÁBULO, MAS NEM TODO VOCÁBULO É UMA PALAVRA! 

Morfologia - O que é?

Morf[o] : do gr Morphe : Forma
logia:       do gr logia: Estudo



Estudo da forma das palavras, tem por objetos:
  • A forma interna das palavras, ou seja, sua estrutura
  • A relação formal entre palavras
  • Os princípios que regem a formação de novas palavras
     Não é consenso entre os especialistas, mas cabe também à morfologia a classificação das palavras. Isso porque além dos critérios formais adotados pela morfologia, é necessário também utilizar-se de critérios semânticos e sintáticos (ex.: canto pode ser substantivo ou verbo, dependendo do sentido em que é empregado).


terça-feira, 13 de março de 2018

Dupla Articulação da Linguagem (Morfologia)

A Dupla Articulação da Linguagem

André Martinet afirma que a linguagem é duplamente articulada. 
(latim) articulus: "parte, subdivisão, membro".

As unidades linguísticas são suscetíveis de serem divididas, segmentadas em unidades menores!

Para Martinet, todo enunciado da língua articula-se em dois planos.

Primeiro plano: divisão do enunciado linguístico em unidades significativas mínimas, os 
      monemas (=morfemas na linguística norte-americana): constituídas de significado e significante. O significado dificilmente pode ser analisado em unidades menores, mas o significante é composto por unidades distintivas mínimas, os... 
Segundo plano: fonemas!



Primeiro plano:
 recontar:    re       con     tar
 reler, retocar, rever         conversar, concordar, contemporizar       estar, pintar, contar

A frase
 Os meninos brincavam pode ser segmentada nos seguintes monemas: o, artigo definido; -s, monema de plural; menin-, radical que conduz ao sentido de garoto/a; -o, monema de masculino; -s, monema de plural; brinc-, radical do verbo brincar; -a, monema que indica que o verbo pertence à primeira conjugação; -va, monema modo-temporal que indica o pretérito imperfeito do indicativo; -m, monema número-pessoal que indica a 3ª pessoa do plural. Da mesma forma como fizemos no exemplo anterior, cada uma dessas unidades pode ser substituída por outra no eixo paradigmático ou só combinar-se com outras no eixo sintagmático.


Segundo plano:
O monema brinc- se articula nos fonemas /b/, /r/, /i/, /n/ e /c/. Nesse plano, as unidades têm apenas valor distintivo. Deste modo, quando se substitui o /b/ do monema brinc- por /t/ se produz um outro radical, trinc-, de trincar, por exemplo.



A dupla articulação da linguagem é um mecanismo de economia linguística. Com poucas dezenas de fonemas, cujas possibilidades de combinação estão longe de ser todas exploradas em cada língua, formam-se milhares de unidades de primeira articulação. Com alguns milhares de unidades de primeira articulação, forma-se um número ilimitado de enunciados. Assim, se precisássemos atribuir um som diferente para cada coisa ou objeto, teríamos que produzir, distinguir e memorizar milhões de sons diferentes, o que é inviável diante da nossa capacidade fonatória, auditiva e da memória.

Eu queria expressar tudo. Pensava, por exemplo, que, se precisava de um pôr-do-sol, devia encontrar a palavra exata para o pôr-do-sol – ou melhor, a mais surpreendente metáfora. Agora cheguei à conclusão (e essa conclusão talvez soe triste) de que não acredito mais na expressão: acredito somente na alusão. Afinal de contas, o que são as palavras? As palavras são símbolos para memórias partilhadas. Se uso uma palavra, então vocês devem ter alguma experiência do que essa palavra representa. Senão a palavra não significa nada para vocês. Acho que podemos apenas aludir, podemos apenas tentar fazer o leitor imaginar. O leitor, se for rápido o suficiente, pode ficar satisfeito com nossa mera alusão a algo (BORGES, 2000, p. 122). 


 Tabela comparativa de definições
   Martinet   
    L. N.A*   
       Exemplos       
monema
morfema
/cant- / /-a / /-va/
lexema
 morfema lexical 
    /cant-/
   morfema
 morfema gramatical 
    /-a/     /-va/

*Linguística norte-americana