A Dupla Articulação da Linguagem
André Martinet afirma que a linguagem é duplamente articulada.
(latim) articulus: "parte, subdivisão, membro".
As unidades linguísticas são suscetíveis de serem divididas, segmentadas em unidades menores!
Para Martinet, todo enunciado da língua articula-se em dois planos.
Primeiro plano: divisão do enunciado linguístico em unidades significativas mínimas, os
monemas (=morfemas na linguística norte-americana): constituídas de significado e significante. O significado dificilmente pode ser analisado em unidades menores, mas o significante é composto por unidades distintivas mínimas, os...
Segundo plano: fonemas!
Primeiro plano:
recontar: re con tar
reler, retocar, rever conversar, concordar, contemporizar estar, pintar, contar
A frase
Os meninos
brincavam pode ser segmentada nos seguintes monemas: o,
artigo definido; -s, monema de plural; menin-, radical que
conduz ao sentido de garoto/a; -o, monema de masculino; -s,
monema de plural; brinc-, radical do verbo brincar; -a, monema
que indica que o verbo pertence à primeira conjugação; -va,
monema modo-temporal que indica o pretérito imperfeito do
indicativo; -m, monema número-pessoal que indica a 3ª pessoa
do plural.
Da mesma forma como fizemos no exemplo anterior,
cada uma dessas unidades pode ser substituída por outra no
eixo paradigmático ou só combinar-se com outras no eixo
sintagmático.
Segundo plano:
O monema brinc- se articula nos fonemas /b/, /r/, /i/,
/n/ e /c/. Nesse plano, as unidades têm apenas valor distintivo.
Deste modo, quando se substitui o /b/ do monema brinc- por
/t/ se produz um outro radical, trinc-, de trincar, por exemplo.
A dupla articulação da linguagem
é um mecanismo de economia linguística. Com poucas dezenas
de fonemas, cujas possibilidades de combinação estão longe
de ser todas exploradas em cada língua, formam-se milhares
de unidades de primeira articulação. Com alguns milhares
de unidades de primeira articulação, forma-se um número
ilimitado de enunciados. Assim, se precisássemos atribuir um
som diferente para cada coisa ou objeto, teríamos que produzir,
distinguir e memorizar milhões de sons diferentes, o que é
inviável diante da nossa capacidade fonatória, auditiva e da
memória.
Eu queria expressar tudo. Pensava, por exemplo, que, se precisava de um pôr-do-sol, devia encontrar a palavra exata para o pôr-do-sol – ou melhor, a mais surpreendente metáfora. Agora cheguei à conclusão (e essa conclusão talvez soe triste) de que não acredito mais na expressão: acredito somente na alusão. Afinal de contas, o que são as palavras? As palavras são símbolos para memórias partilhadas. Se uso uma palavra, então vocês devem ter alguma experiência do que essa palavra representa. Senão a palavra não significa nada para vocês. Acho que podemos apenas aludir, podemos apenas tentar fazer o leitor imaginar. O leitor, se for rápido o suficiente, pode ficar satisfeito com nossa mera alusão a algo (BORGES, 2000, p. 122).
Tabela comparativa de definições
Martinet
|
L. N.A*
|
Exemplos
|
monema
|
morfema
|
/cant- / /-a / /-va/
|
lexema
|
morfema lexical
| /cant-/ |
morfema
|
morfema gramatical
| /-a/ /-va/ |
*Linguística norte-americana
Deu para entender!
ResponderExcluirExposição curta e clara.