terça-feira, 13 de março de 2018

Dupla Articulação da Linguagem (Morfologia)

A Dupla Articulação da Linguagem

André Martinet afirma que a linguagem é duplamente articulada. 
(latim) articulus: "parte, subdivisão, membro".

As unidades linguísticas são suscetíveis de serem divididas, segmentadas em unidades menores!

Para Martinet, todo enunciado da língua articula-se em dois planos.

Primeiro plano: divisão do enunciado linguístico em unidades significativas mínimas, os 
      monemas (=morfemas na linguística norte-americana): constituídas de significado e significante. O significado dificilmente pode ser analisado em unidades menores, mas o significante é composto por unidades distintivas mínimas, os... 
Segundo plano: fonemas!



Primeiro plano:
 recontar:    re       con     tar
 reler, retocar, rever         conversar, concordar, contemporizar       estar, pintar, contar

A frase
 Os meninos brincavam pode ser segmentada nos seguintes monemas: o, artigo definido; -s, monema de plural; menin-, radical que conduz ao sentido de garoto/a; -o, monema de masculino; -s, monema de plural; brinc-, radical do verbo brincar; -a, monema que indica que o verbo pertence à primeira conjugação; -va, monema modo-temporal que indica o pretérito imperfeito do indicativo; -m, monema número-pessoal que indica a 3ª pessoa do plural. Da mesma forma como fizemos no exemplo anterior, cada uma dessas unidades pode ser substituída por outra no eixo paradigmático ou só combinar-se com outras no eixo sintagmático.


Segundo plano:
O monema brinc- se articula nos fonemas /b/, /r/, /i/, /n/ e /c/. Nesse plano, as unidades têm apenas valor distintivo. Deste modo, quando se substitui o /b/ do monema brinc- por /t/ se produz um outro radical, trinc-, de trincar, por exemplo.



A dupla articulação da linguagem é um mecanismo de economia linguística. Com poucas dezenas de fonemas, cujas possibilidades de combinação estão longe de ser todas exploradas em cada língua, formam-se milhares de unidades de primeira articulação. Com alguns milhares de unidades de primeira articulação, forma-se um número ilimitado de enunciados. Assim, se precisássemos atribuir um som diferente para cada coisa ou objeto, teríamos que produzir, distinguir e memorizar milhões de sons diferentes, o que é inviável diante da nossa capacidade fonatória, auditiva e da memória.

Eu queria expressar tudo. Pensava, por exemplo, que, se precisava de um pôr-do-sol, devia encontrar a palavra exata para o pôr-do-sol – ou melhor, a mais surpreendente metáfora. Agora cheguei à conclusão (e essa conclusão talvez soe triste) de que não acredito mais na expressão: acredito somente na alusão. Afinal de contas, o que são as palavras? As palavras são símbolos para memórias partilhadas. Se uso uma palavra, então vocês devem ter alguma experiência do que essa palavra representa. Senão a palavra não significa nada para vocês. Acho que podemos apenas aludir, podemos apenas tentar fazer o leitor imaginar. O leitor, se for rápido o suficiente, pode ficar satisfeito com nossa mera alusão a algo (BORGES, 2000, p. 122). 


 Tabela comparativa de definições
   Martinet   
    L. N.A*   
       Exemplos       
monema
morfema
/cant- / /-a / /-va/
lexema
 morfema lexical 
    /cant-/
   morfema
 morfema gramatical 
    /-a/     /-va/

*Linguística norte-americana

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