terça-feira, 25 de junho de 2019

Argumentação - INCLUIR LISTA DE FALACIAS

A argumentação não deve ser vista como uma maneira usada para transmitir a verdade ou a lógica, mas como o uso de técnicas discursivas que visam à adesão dos espíritos, e, por isso mesmo, pressupõem a existência de um caráter intelectual. Para argumentar, faz-se necessário valorizar a adesão do interlocutor por seu raciocínio, por sua condução lógica ao contra-argumentar ou concordar. É preciso ter cautela para não praticar a dialética com qualquer interlocutor, sendo necessário fazer parte de um mesmo meio, relacionar-se socialmente, facilitando, assim, a condução para o contato dos espíritos.

Desde Aristóteles a linguagem é concebida como instrumento de argumentação, sendo desta, matéria e instrumento. A argumentação ocorre no plano da palavra.
Perelman e Tyteca afirmam não ser a linguagem, simplesmente, um meio de comunicação, mas também um meio de persuadir. Todas as pessoas tem uma ideologia e torna-se inevitável sua manifestação por meio do discurso, pois ele reflete o pensamento do indivíduo.

Segundo Jakobson (1971), todo ato de linguagem tem uma dimensão argumentativa, seja em:

  • sentido strito = explícito
  • sentido lato = implícito


Todo texto é persuasivo. Para convencer o leitor, produtor do texto faz uso de vários recursos argumentativos que se apoiam nos princípios da lógica formal e nos princípios da lógica da língua.



O texto argumentativo tem o objetivo de fazer crer/fazer fazer. É comum em textos publicitários, peças jurídicas e matérias opinativas, sendo a superestrutura composta das seguintes categorias (nem sempre apresentando todas ou nessa mesma ordem):

TESE (PREMISSAS) - ARGUMENTOS  (CONTRA-ARGUMENTOS) (SÍNTESE) - CONCLUSÃO (= NOVA TESE)

Tese: proposição que se expõe para ser defendida.
Premissa: princípio de um sistema dedutível ou fato reconhecível.
Argumento: Raciocínio pelo qual se tira uma consequência ou dedução.
Contra-argumento: argumento que contradiz o(s) argumento(s) que defende(m) a tese.
Síntese: resumo, exposição abreviada de uma sucessão de acontecimentos ou situações expostas; breve visão global.
Conclusão: ato de concluir uma ideia, um pensamento, término, fim, fechamento. Pode indicar uma nova tese.


O argumento não representa a verdade, mas trata-se de um recurso da linguagem utilizado para levar o outro a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar aquilo como verdadeiro, assim como a ser persuadido, ou seja, a realizar o que é recomendado.





São elementos essenciais na argumentação:

  1. locutor: o apresentador do discurso
  2. auditório: a quem se destina a argumentação (alocutário)
  3. fim: adesão a uma tese ou o acréscimo de intensidade de adesão


Tipos de auditórios:

  • Universal: "toda a humanidade"
  • Particular: Uma pessoa ou um grupo de pessoas com características em comum
  • Constituído pelo próprio locutor: Nos diários e monólogos.

Etimologicamente, convencer significa "vencer junto com o outro", e não vencer contra o outro. Segundo Abreu (2002), "convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando".

Convencer é levar o outro a pensar como nós, o que não significa que fará aquilo que queremos que ele realize. Persuadir é diferente: É levá-lo à realizar o que desejamos que ele faça, ou sensibilizar o outro para que aja. É falar à emoção do outro.

Se um filho entende as recomendações de seus pais de que é importante estudar, sensibilizado racionalmente, houve o convencimento. Ele pode estudar ou não. A persuasão só ocorrerá se ele mudar sua postura, estudando.


Quatro condições para uma argumentação eficaz (Abreu, 2002):


  1. Ter uma tese definida e conhecer para que tipo de problema ela é resposta;
  2. Ter uma linguagem adequada para o interlocutor/auditório, ou seja, o emissor necessita adaptar-se às condições intelectuais e sociais do receptor;
  3. Ter um contato positivo com o auditório, sabendo gerenciar essa relação de forma que haja respeito, bom humor e sinceridade;
  4. Agir de forma ética, cuidando para que a argumentação não se torne um processo de manipulação.


Documentário de Plínio Marcos sobre a Aids, realizado para presidiários:


Para conseguir seu objetivo, Plínio compara a saúde à liberdade. Isso porque para aquele auditório a liberdade é o bem mais prezado. O texto traz uma informação básica: A Aids se transmite pelo sangue e esperma, e o meio de prevenção é o uso de preservativos e não compartilhando seringas. Para atingir seu propósito, Plínio usa o mesmo linguajar de seus destinatários, apresentando-se como sendo um deles, ganhando sua confiança: usa vocativos como malandro, malandrage, vago mestre. Também usa a variante não culta, na modalidade oral: ganhá, valê, transá, doutô, mulhé, etc.  Substitui não é por né. Inadequação no uso das formas pronominais (tu não se toca, tu cheira...), gíria da marginalidade (congesta, pico, tranca, ganha na força bruta...)


Comunicar não é apenas transmitir informações. A teoria da comunicação diz que para que ela haja é preciso seis fatores:

  1. O emissor (que produz)
  2. O receptor (a quem é transmitido)
  3. A mensagem (elemento material, como conjunto de sons)
  4. O código (sistema linguístico, por exemplo)
  5. O canal (meios sensoriais ou materiais pelo qual a mensagem é transmitida)
  6. O referente (assunto abordado, ou conteúdo da mensagem).

No ato comunicativo, há diferença entre comunicação recebida e comunicação assumida. Como comunicar é agir sobre o outro, quando se comunica não se visa somente a que o receptor receba e compreenda a mensagem, mas também que a aceite, ou seja, creia e faça o que nela se propõe.
Não é só o fazer saber, mas também o fazer crer e fazer fazer.

A aceitação depende de uma série de fatores: emoções, sentimentos, valores, ideologia, visão de mundo, convicções políticas, etc.


A argumentatividade está inscrita na própria língua e se faz por meio de mecanismos, conhecidos como marcas linguísticas da enunciação ou da argumentação.



A classe argumentativa

Define-se por uma conclusão e constitui-se de enunciados com conteúdo que apontam para essa conclusão:

Vocês são pessoas competentes. (conclusão)

arg. 1: têm muita experiência
arg. 2: têm boa formação acadêmica
arg. 3: são estudiosos



A escala argumentativa         

Quando os enunciados de uma classe se apresentam de forma gradativa (crescente) para uma mesma conclusão.

A festa foi maravilhosa.

arg. + forte: arg.  tinha até fogos
                    arg. tinha música
                    arg. tinha comes e bebes


Quando a conclusão for negada, os elementos são invertidos:

arg + forte:  arg. não tinha comes e bebes
                    arg. não tinha música
                    arg. não tinha fotógrafos




Operadores Argumentativos

Denomina certos elementos gramaticais de uma língua que apontam para uma direção, para um sentido, tendo como função mostrar a força argumentativa dos enunciados.


  • Operadores que estabelecem a hierarquia dos elementos numa escala, orientando ao sentido da conclusão:

                        até,    até mesmo,    mesmo,    inclusive     etc.



  • Operadores que reúnem argumentos direcionadores a uma mesma conclusão, ou seja, pertencem a uma mesma classe argumentativa como:

                        e,    também ainda,    nem (= e não),    não só... mas também,    tanto... como,    além de...    além disso...,    a par de...    etc.



  •  Operadores que introduzem uma conclusão referindo-se a argumentos manifestados em enunciados antepostos como: 
                       portanto,    por conseguinte,    pois,    nem decorrência,    consequentemente    etc.



  • Operadores que constituem relações de comparação entre elementos, direcionando a uma determinada conclusão

                      mais que,    menos que,    tão...como,    tanto... quanto,    tal qual,    da mesma forma    etc.



  • Operadores que iniciam argumentos alternativos que direcione a conclusões opostas e diferentes:
                     ou,    ou então,    quer...quer,    seja... seja,    ora...     etc.



  • Operadores que manifestam uma explicação ou justificativa referente ou relacionada ao enunciado apresentado antes como:
                    porque,    que,    já que,    pois    etc.




  • Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões adversas como: 
                   mas,    porém,    contudo,    todavia,    no entanto,    ...,    embora,    ainda que,    posto que,    apesar de (que)    etc.



  • Operadores que têm por função introduzir no enunciado conteúdos pressupostos como: 
                 já,    ainda,    agora    etc.


  • Operadores que se manifestam em escalas opostas, ou seja, um funciona numa escala orientada, direcionada para a afirmação total, e outro, numa escala orientada, direciona para a negação total. 
                  pouco e pouco,    quase e apenas,    não somente    etc.   (Não fazem parte dos mesmos contextos argumentativos)



Os operadores argumentativos são chamados, às vezes, de palavras denotativas ou denotadoras de inclusão, de exclusão, de retificação etc. Respondem, muitas vezes, pela força argumentativa dos textos.
 


















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